Há um ditado que diz que toda mulher, por mais magra que seja, deseja sempre perder 3kg. Uma pesquisa inédita no Estado, realizada pela professora Ana Márcia Cavalcanti, do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente (PPGSCA) da UFPE, mostrou que esse anseio não se restringe a adultos do sexo feminino. Crianças e adolescentes com idade entre 10 e 14 anos que possuíam massa corpórea normal afirmaram estarem insatisfeitos com sua imagem física e demonstraram vontade de emagrecer.
Dentre esses, os resultados foram significativamente maiores nos adolescentes do sexo feminino. A grande maioria das meninas com idade entre 12 e 13 anos disse possuir uma alimentação restritiva. Segundo a pesquisadora, isso advém de uma interação entre fatores biológicos, familiares, sociológicos e sócio-culturais, que podem determinar uma situação distorcida entre o indivíduo e seu comportamento alimentar.
Devido a essa distorção, surgem transtornos como a Anorexia (AN), a Bulimia Nervosa (BN) e o Transtorno do Comer Compulsivo (TCC). “A maior vulnerabilidade do sexo feminino aos Transtornos do Comportamento Alimentar (TCA) demonstra a forte influência que a imagem corporal tem nesse gênero, embora o incremento dos distúrbios do comportamento alimentar entre adolescentes do sexo masculino esteja cada vez mais acentuado nas últimas décadas”, esclarece Ana Márcia.
A pesquisa – orientada pelos professores Alcides Diniz e Ilma Kruze – mostrou que, em Recife, o consumo de bebidas alcoólicas é um dos principais fatores de risco para a anorexia, a bulimia nervosa e o TCC. Além disso, é comum àqueles com tendências para os TCA o hábito de fazer as refeições sozinhos.
Segundo a pesquisadora, é durante a adolescência que boa parte das refeições começa a ser realizada fora do ambiente familiar, especialmente devido às atividades escolares. Em contrapartida, esse é o período em que se está mais suscetível à pressão do culto ao corpo magro e longilíneo de nossa sociedade ocidental.
Sentindo a necessidade de aceitação pelos seus colegas, os adolescentes terminam por hipervalorizar a forma e a perfeição do corpo. Dessa maneira, passam a reestruturar seus costumes alimentares para se adequarem aos padrões estéticos contemporâneos.
PERFECCIONISMO O estudo mostrou que o número de estudantes com TCA é maior em escolas particulares, onde se concentra um público de classe média alta e há uma maior valorização à beleza. “É plausível que a baixa auto-estima vivenciada por esses adolescentes desempenhe um papel preponderante nesse comportamento de risco”, alerta a professora.
A criança ou adolescente que sofre de TCA pode nutrir deformações em suas curvas de crescimento, atraso ou interrupção do desenvolvimento puberal. Este atraso pode ocasionar, em média, diminuição de cerca de 15% ou mais do tamanho adequado para idade/altura e existe um grande risco de mortalidade. Pode haver, ainda, uma necessidade obsessiva pelo perfeccionismo, exatidão, simetria e maior esquiva de riscos, retraimento e controle dos impulsos.
Na tese, a autora afirma que a estrutura familiar colabora diretamente para o desenvolvimento ou não dos transtornos alimentares. A pesquisa revelou que dentre as condições para a ocorrência do comer compulsivo – que acaba resultando na bulimia ou na obesidade – a percepção do